terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"AZUL-TOCAIA"


As ondas de tuas curvas me são convites
irrecusáveis para entrar no mar e com os pés sentir seu beijo delicado.
Atravesso a primeira de suas paredes com olhos fechados para apreciar o prazer dessa ilusão.

As ondas de tuas curvas são pequenas tocaias que
me levam para dentro do desconhecido. Suas séries crescidas sem aviso me
empurram cada vez mais para o fundo de onde já mal enxergo o horizonte. Sempre
adiante, não vejo possibilidade de voltar pela própria vontade.

Agora dependo de seu querer. Da força do
vento para me levar. Na calmaria além da arrebentação, seus beijos se foram,
não vejo mais os pés, e sinto meu corpo desfalecendo aos poucos, de frio, angustia e dor.

Começo a perceber em meio á deriva, o próprio
isolamento da alma. Choro as amarguras, revolto-me com os descuidos, rezo por
clemência. Sonho em ter asas, mas, asas molhadas de nada adiantariam voar por
toda essa imensidão perdida.

No delírio, fecho os olhos, e vem a mim uma
voz, a mais linda que já ouvi. Era o canto da sereia, que me prende em suas
teias que não molham com o mar. Penso estar morto, aquilo era mera vertigem de
um perturbado náufrago de amor.

Inclinado a receber a morte em vão, sinto
gotas do céu pingando ao meu redor. O faro da maresia aumenta gradativamente
como sopro do vento, sinal de tempestade. É minha última esperança. A tormenta
temida é minha fuga de vida. Aproveito o mar nervoso me jogo na onda que
entrara e sou cuspido de volta a terra.

Estou de volta a terra, mas também, a minha dita sina.
Dias depois volto à mesma praia, olho para o mesmo mar, sinto o mesmo cheiro,
contemplo a mesma onda. As curvas de suas ondas são tão inesquecíveis, que
imergiria as suas vontades, desde que soprasse minha vida para fora desse vão
de falseias e deixasse meus criteriosos ensejos de ilusão, dentro de seu temido
desconhecido azul maldito. (IC)

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