terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"POEMA NOSSO"

Poema nobre, poema rico,
Poema esnobe, poema frio,
Poema raso, poema dito,
Poema rastro, poema lido,

Poema exposto, poema culto,
Poema sério, poema mudo,
Poema sexo, poema surto,
Poema nexo, poema adulto,
Poema réu, poema ateu,
Poema eterno, poema seu,
Poema fasto, poema assim,
Poema cujo, poema fim,
Poema lúdico, poema morte,
Poema reto, poema forte,
Poema dor, poema sã,
Poema gente, poema clã,
Poema cerne, poema luz,
Poema lama, poema jus.

Poema brio, poema crítico,
Poema lindo, poema físico,
Poema estado, poema vida,
Poema choro, poema saudade, poema partida...
Poema tormenta, poema sangue,
Poema vasto, poema fome,
Poema disso, poema faceiro,
Poema boêmio, poema feio,

Poema anárquico, poema social,
Poema profundo, poema banal,
Poema sonso, poema flor,
Poema céu, poema amor,

Poema grito, poema rito,
Poema mito, poema lixo.

Poema labor, poema dia,
Poema sol, poema mídia,
Poema noite, poema sujo,
Poema doce, poema fulo,

Poema eterno, poema efêmero,
Poema aflito, poema anseio,
Poema mulher, poema segredo,
Poema angústia, poema beijo,

Poema chama, poema flama,
Poema escasso, poema drama,
Poema seco, poema essência,
Poema fossa, poema carência

Poema culpa, poema fita,
Poema cru, poema sina,
Poema paz, poema sou,
Poema traz, poema vou,

Poema quimera, poema faceiro,
Poema procela, poema devaneio,
Poema aberto, poema Deus,
Poema a parte, poema meu. (IC).

domingo, 26 de fevereiro de 2012

"PEDRA DO SAL"



“No meio do caminho tinha uma pedra”. Não a removi.
Dali nunca mais saí. Aquela pedra virou minha sina vital
Minha poesia, meu carnaval.

"No meio do caminho tinha pedra"
- Graças a Deus! Era a Pedra do Sal! (IC)

"NUM DIA MORTO"



O céu deserto
De ventos desordenados e procelas d’águas
As folhas secam ao pó aceiro

Das cinzas esnobes
A aurora encoberta
Do quieto breu de névoa falaz

Não há pássaros
Não há nuvens, nem luz
Não há vestígios do dia
Só há a frieza da temida hora

Ao pisar nas mortas
Cada estalo quebra seu silêncio infracto
E percebo meu próprio isolamento

O mundo ficou pequeno
Sem sol, sem teu sorriso.
Já não penso mais aflito
Ao pesar da brisa insossa

Escusa a utopia
Há mais céu do que eu sabia
E que fraterna é a ilusão
De darmos as cartas ao tempo

Nas adornas inspirações
Tenho albor, céu dilúculo,
Não revivo meu passado
Pois não tenho mais futuro. (IC)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"AZUL-TOCAIA"


As ondas de tuas curvas me são convites
irrecusáveis para entrar no mar e com os pés sentir seu beijo delicado.
Atravesso a primeira de suas paredes com olhos fechados para apreciar o prazer dessa ilusão.

As ondas de tuas curvas são pequenas tocaias que
me levam para dentro do desconhecido. Suas séries crescidas sem aviso me
empurram cada vez mais para o fundo de onde já mal enxergo o horizonte. Sempre
adiante, não vejo possibilidade de voltar pela própria vontade.

Agora dependo de seu querer. Da força do
vento para me levar. Na calmaria além da arrebentação, seus beijos se foram,
não vejo mais os pés, e sinto meu corpo desfalecendo aos poucos, de frio, angustia e dor.

Começo a perceber em meio á deriva, o próprio
isolamento da alma. Choro as amarguras, revolto-me com os descuidos, rezo por
clemência. Sonho em ter asas, mas, asas molhadas de nada adiantariam voar por
toda essa imensidão perdida.

No delírio, fecho os olhos, e vem a mim uma
voz, a mais linda que já ouvi. Era o canto da sereia, que me prende em suas
teias que não molham com o mar. Penso estar morto, aquilo era mera vertigem de
um perturbado náufrago de amor.

Inclinado a receber a morte em vão, sinto
gotas do céu pingando ao meu redor. O faro da maresia aumenta gradativamente
como sopro do vento, sinal de tempestade. É minha última esperança. A tormenta
temida é minha fuga de vida. Aproveito o mar nervoso me jogo na onda que
entrara e sou cuspido de volta a terra.

Estou de volta a terra, mas também, a minha dita sina.
Dias depois volto à mesma praia, olho para o mesmo mar, sinto o mesmo cheiro,
contemplo a mesma onda. As curvas de suas ondas são tão inesquecíveis, que
imergiria as suas vontades, desde que soprasse minha vida para fora desse vão
de falseias e deixasse meus criteriosos ensejos de ilusão, dentro de seu temido
desconhecido azul maldito. (IC)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"O MEDO"



O medo é uma linha tênue entre seus limites medíocres e sua temida potência.
O medo é nosso maior provocador. É ele que mostra nossa
real faceta deixando brechas do que somos, poderíamos ser ou nunca seremos. De
forma tinhosa, o medo exerce na alma as dúvidas fixas que assombram o orgulho,
nosso maior sinal de virtude. O medo não só te desafia, pelo contrário, veja o
medo como um grande amigo que quer te ajudar a crescer.

Enfrente o medo de peito aberto. Ouse ousá-lo. Não o leve tão a sério. Seja determinado
a vencê-lo. Experimente desrespeitá-lo. Sinta a excitação de enfrentar suas
procelas. No máximo, saberás do que temes. Indaga-os até provar seu gosto.
Perturbe-se aos olhos do embate, vale à pena. Converse com ele, busque razões e
depois formas de matá-lo. O medo é eterno, inevitável, pois sem ele perdemos um
importante contato com a alma, aquilo que chamamos de essência.

Medo da morte? Viva cada segundo.
Medo do escuro? Enxergue a luz através de seus pensamentos. Medo
de altura? Não olhe para baixo, estufe o peito e amplie de cima seus novos
caminhos. Atravesse o calvário como uma onda. Flutue no abismo e sinta que as
tormentas são meros anseios do que precisamos enfrentar. Se a vida é um
aprendizado, o medo é o exercício diário do saber. (IC)

"AOS OLHOS"



Aos olhos que em mim te vejo,
tão repletos de desejo,
são embrenhadas pela
imagem de nossas almas viscerais.

Aos olhos que em mim te vejo,
aguça a sorte de um cortejo
Em infindos e libertes encontros casuais.

Aos olhos que em mim te vejo,
suplico em lágrimas mais um beijo,
mesmo que seja sob a luz parca da despedida.

Aos olhos que em mim te vejo,
enxergo a raiz de meus receios,
marejados ao te ver desiludida.

A esses olhos, que mesmo fechados te vejo,
sinto seu corpo sem defeitos,
criados pela vertigem
de minha arrependida fé.

Pois aos olhos que em mim te vejo,
expõe as dores de seu motejo,
da ínfima importância que dais a quem te quer. (IC)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"NÃO FALE, NÃO ESCUTE, NÃO VEJA!"


Aos alicerces de uma vida posta,
uma sonora iminência do repouso partido.
Subvenção da alma morta que renasce e aflora,
das derivas impostas pelos danosos morticínios.

Neste feito de viés desmascarado,
se insinua a métrica da razão.
Expõem partículas de conjunturas
e esboçam luzes que ofuscam são.

E salvos pela guarida de um pleno,
o plano se sereno, passa medre?
Destoam as cores do breu cego,
mas melhor cego de que enxergar o que não deve.

Sobrepujadas as faces da chacina,
a névoa branda paira,
como campo sem mina,
estima-se os altos do recato mudo,
de quem não viu, vê, fala ou é surdo. (IC)